novos termos

Dicionário da pandemia: a diferença entre isolamento e distanciamento, o que é lockdown e mais

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina de muita gente e alterou por completo a pauta dos gestores públicos e da imprensa. Transformou o que se fala, mas também mudou como se fala. Quantas vezes você ouviu falar em "pandemia" antes de vivermos a atual? Qual a diferença entre pandemia e epidemia? Isolamento e quarentena, são a mesma coisa?

Além dos termos científicos, da área da saúde, as medidas de prevenção adotadas por aqui e inspiradas no que já foi feito em outros países, onde o vírus chegou primeiro, trouxeram também 'anglicismos" para a nossa língua. Ou seja, palavras da língua inglesa que foram incorporadas ao nosso uso cotidiano.

Para entender o que alguns desses novos termos significam, a professora adjunta da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) na área de Literaturas de Língua Inglesa, Mônica Stefani, explica expressões como lockdown e take-away. Para dar conta das palavras que vem da área da saúde, o Diário conversou com Alexandre Vargas Schwarzbold, que é médico infectologista no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) e professor do curso de Medicina também na UFSM, com a médica epidemiologista Marinel Mor Dall' Agnol, professora da UFSM,  e com a biomédica Renata Streck.

Veja o dicionário:

Covid-19
É o nome da doença associada ao novo coronavírus, uma doença respiratória. Conforme Alexandre, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi quem definiu essa denominação. O número 19 foi adicionado a sigla porque a doença começou em dezembro de 2019, quando houve o registro do primeiro caso. Para resumir, o Covid-19 é o nome dado à síndrome respiratória vívida pelo mundo, assim como foi o SARS que atingiu a China em 2002 (veja o que é "SARS" abaixo). De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), os coronavírus estão por toda parte. Ao todo, sete coronavírus humanos (HCoVs) já foram identificados, entre eles, o SARS-COV (que causa síndrome respiratória aguda grave), MERS-COV (que causa síndrome respiratória do Oriente Médio), e o mais recente, o novo coronavírus (que no início foi temporariamente nomeado 2019-nCoV e, em 11 de fevereiro de 2020, recebeu o nome de SARS-CoV-2). Esse novo coronavírus é responsável por causar a doença Covid-19, que significa corona (Co), vírus (vi) e disease (d), que é doença, em inglês.

SARS-Cov-2
É o nome que se dá ao vírus ou agente que causa a infecção. A sigla "SARS" vem do inglês e, traduzida, significa Síndrome Respiratória Aguda Grave. O coronavírus que atinge o mundo hoje causa essa síndrome, por isso a sigla é inclusa no nome do vírus. Conforme Alexandre, o "cov", por sua vez, é a abreviatura de coronavírus e recebe o número "2" para que possa ser diferenciado de outro vírus SARS, que causou una pequena epidemia na China em 2002. Depois de 2004, não foi registrado mais nenhum caso daquela doença, então, ela ficou contida lá na região. "Aquele foi o SARS-cov-1 e, agora, estamos diante do SARS-Cov-2", explica ele. 

Distanciamento social
De acordo com o TelessaúdeRS, vinculado à Universidade Federal de Rio Grande do Sul (Ufgrs), o distanciamento social é a diminuição de interação entre as pessoas de uma comunidade para diminuir a velocidade de transmissão do vírus. É uma estratégia importante quando há indivíduos já infectados, mas ainda assintomáticos ou oligossintomáticos, que não se sabem portadores da doença e não estão em isolamento. Esta medida deve ser aplicada especialmente em locais onde existe transmissão comunitária, como é o caso do Brasil, quando a ligação entre os casos já não pode ser rastreada e o isolamento das pessoas expostas é insuficiente para frear a transmissão. O distanciamento social pode ser ampliado (não se limita a grupos específicos) ou seletivo (apenas os grupos de maior risco ficam isolados - idosos, imunodeprimidos, pessoas com doenças crônicas descompensadas). 

Isolamento social
É uma medida que visa separar as pessoas doentes (sintomáticos respiratórios, casos suspeitos ou confirmados de infecção por coronavírus) das não doentes, para evitar a propagação do vírus. O isolamento pode ocorrer em domicílio ou em ambiente hospitalar, variando de acordo com o estado clínico da pessoa. Essa ação pode ser prescrita por médico ou agente de vigilância epidemiológica e tem prazo máximo de 14 dias. Na prescrição do isolamento, o paciente deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e seguir as orientações para evitar o contágio de seus contatos domiciliares.

Quarentena
É a restrição de atividades ou separação de pessoas que foram presumivelmente expostas a uma doença contagiosa, mas que não estão doentes (porque não foram infectadas ou porque estão no período de incubação). A quarentena pode ser aplicada em nível individual, como por exemplo: para uma pessoa que volta de viagem internacional ou para contatos domiciliares de caso suspeito ou confirmado de coronavírus; ou em nível coletivo, como por exemplo: quarentena de um navio, um bairro ou uma cidade, e geralmente envolve restrição ao domicílio ou outro local designado. Pode ser voluntária ou mandatória. 

EPI's
Quer dizer "equipamento de proteção individual" e é um produto ou dispositivo para a segurança individual de qualquer trabalhador exposto à risco. Muitas vezes, os EPIs são usados combinados, para garantir maior proteção. No caso da saúde, explica o médico, os EPIs protegem os profissionais de transmissões biológicas, que acontecem pelo contato do trabalhador com o sangue, com bactérias, presentes no ambiente, ou pelo contato e transmissão respiratória. Para prevenir essas situações, os profissionais usam luvas, jalecos, aventais, máscaras de diferentes tipos, gorros e, mais recentemente, os protetores faciais do tipo "face shields", aqueles afixados na cabeça do profissional e que dispõem de uma estrutura resistente e transparente que cobre a frente e as laterais do rosto. Todos esses, são exemplos de EPIs utilizados na área da saúde. Alexandre lembra que o uso desses instrumentos varia de acordo com o risco e com o tipo de transmissão que o profissional está exposto e pondera que, além da proteção individual, há os equipamentos de proteção coletiva (EPCs) menos comentados na mídia, mas que também são usados para garantir a segurança da equipe, das estruturas e dos processos no ambiente de saúde. 

Epidemia
Acontece quando há a ocorrência de surtos de uma determinada doença em várias regiões. O surto ocorre quando há um aumento inesperado dos casos de uma doença onde antes ela era pouco registrada. "Por exemplo, a dengue em algumas cidades é tratada como surto, e não como epidemia, porque acontece apenas em um bairro específico. Nesse caso, dizemos que há 'um surto em tal bairro'", afirma Alexandre Vargas. Em nível municipal, uma epidemia ocorre quando há surtos de determinada doença em vários bairros, num mesmo período. No nível estadual, a epidemia ocorre quando há surtos em várias cidades. Um exemplo disso foi a epidemia de H1N1 no Rio Grande do Sul, em 2009. Já no âmbito nacional, considera-se que há uma epidemia em curso quando registram-se surtos da doença em diferentes regiões do país, explica o médico.  

Pandemia
O termo designa uma epidemia que se espalha por diversas regiões do planeta, concomitantemente, como ocorre com o coronavírus no momento atual. "Em 2009, a Gripe A (H1N1) passou de epidemia para pandemia quando a OMS começou a registrar casos em seis continentes. Agora, o coronavírus começou na China, era uma epidemia. Quando então se percebeu a grande chance de transmissão respiratório para regiões além da China, e então a OMS também passou o coronavírus, de uma epidemia, para uma pandemia", explica Alexandre. O médico pondera ainda que há o termo "endemia", usado quando uma doença aparece de modo mais ou menos contínuo em uma determinada região, por conta de fatores locais daquela região. E cita, como exemplo de doenças endêmicas, a febre amarela e a malária no Norte do Brasil.

Lacen
É o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Localizado em Porto Alegre, é lá que são feitos os testes das amostras recolhidas de pessoas que apresentam casos suspeitos do novo coronavírus e que, posteriormente, serão contabilizados pelo governo do Estado.

Leitos de UTI
São aqueles leitos com infraestrutura específica para o atendimento de pacientes em estado grave ou critico, que precisam de cuidados especiais, inclusive de ventilação mecânica.

Leitos clínicos
Esse termo foi usado, por exemplo, quando da inauguração dos novos leitos no Hospital Regional. No local, foi prometido o funcionamento de até 40 leitos clínicos. O médico Alexandre explica que a terminologia "leito clínico" serve para fazer a diferenciação dos "leitos de UTI" e dos "leitos cirúrgicos" - aqueles para onde vão os pacientes pré ou pós-cirurgia.  Leitos clínicos, portanto, são leitos de enfermaria, para onde pacientes que ainda não estão em estado crítico são encaminhados. Ali, esses pacientes recebem acompanhamento e a doença passa por investigação. 

Drive-thru
A tradução literal de to drive through seria algo como "passar de carro por"ou "dirigir por". "É o estabelecimento que oferece seus serviços/produtos para que quem está de carro não precise sair dele (como os restaurantes de comida rápida que aparecem muito nos filmes norte-americanos)', explica Mônica. Contudo, agora, além de produtos de alimentação, outros serviços passaram a ser feitos nesse modelo. Em Santa Maria, por exemplo, a vacinação contra a gripe neste ano adotou o modelo drive-thru, a prefeitura arrecadou doações de alimentos também por meio de drive-thru e pelo menos um laboratório particular na cidade já realiza exames de Covid-19 sem que as pessoas precisem sair do carro. 

Lockdown
"Fechamento total" ou "bloqueio total" são duas possíveis traduções para o termo, explica a professora Mônica. Segundo ela, a palavra vem de to lock something down, entendido como "trancar algo", "guardar algo" ou  "proteger algo". Foi originalmente usada no contexto norte-americano e relacionado ao sistema prisional, quando os presos são mantidos confinados em celas por medida de segurança temporária. Hoje em dia, contudo, lockdown é usado no sentido de medida de segurança, que é instituída por alguma autoridade para isolar ou impedir que pessoas entrem ou saiam livremente de determinadas áreas, devido a uma emergência ou ameaça de emergência, como o contágio por coronavírus. Esse bloqueio total já foi aplicado em países europeus atingidos pela doença, como a Itália, e na província chinesa de Wuham, epicentro do vírus no país asiático. No Brasil, algumas cidades já trabalham com a medida, como São Luís, capital do Maranhão, onde o fechamento total foi recomendado pelo Ministério Público. No Rio Grande do Sul, nenhuma cidade vive ou viveu lockdown por conta da doença. Mas a medida não está descartada: o sistema de distanciamento controlado estabelecido por decreto no Estado prevê a atribuição de cores às regiões, conforme o nível de gravidade da situação. As cores vão de amarelo, passando por laranja e vermelho, até preto. A bandeira preta indica fechamento total. Até o momento, nenhuma região recebeu essa cor, mas todos os sábados uma atualização da classificação regional é divulgada. 

Take-away (ou takeaway)
O  verbo "to take away" tem, entre seus sentidos, o de "levar algo embora". "Logo, é o prato preparado em um estabelecimento que a gente vai buscar (isto é, levar) para comer em casa (ou em outro lugar), que não os domínios do estabelecimento que o preparou", explica a professora Mônica. Funciona como uma alternativa ao delivery ou à teleentrega, já que, no caso do take-away, quem compra é responsável também por ir buscar o pedido no estabelecimento e fazer o transporte até o destino final. 

Teste rápido
Conforme a médica epidemiologista e professora da UFSM Marinel Mor Dall'agnol, um teste rápido é feito com uma gota de sangue da pessoa e é mais simples para ser feito. É um teste imunológico que capta a resposta do organismo, os anticorpos da pessoa ao contato com o vírus. Se der positivo, significa que a pessoa teve contato com o vírus em algum momento. Até o organismo produzir esses anticorpos, demora, no mínimo, oito dias. Não é um teste diagnóstico, não significa que a pessoa está doente naquele momento. É mais útil para saber como vai a epidemia, para fazer planejamento de medidas de prevenção. A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) coordena uma pesquisa no Estado onde são feitos testes rápidos que ajudam a identificar a porcentagem da população gaúcha que já foi infectada pelo coronavírus. Em Santa Maria, Marinel é a responsável pelo andamento da pesquisa. 

Exame RT-PCR
Segundo explicação de Marinel, este exame é feito com amostras de secreção do nariz e garganta, por pessoas especializadas que trabalham em laboratório. Ele mostra o vírus propriamente dito. É um teste genético e dá o diagnóstico da doença para quem está infectado no momento, diferente do teste rápido, que é uma resposta do organismo à doença. Se o exame der positivo, a pessoa está com a doença naquele momento.




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